domingo, 28 de abril de 2013

Família suporte da humanidade


Texto Opinião | Eduardo Santos | 28/04/2013 | 08:10
«O que se exige é que o Estado esteja atento para evitar o desmembramento da família», disse Manuela Ferreira Leite, economista e ex-governante, nas jornadas «Pensar a Família» organizadas pelo PSD
A nota pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), divulgada recentemente em Fátima, voltou a por na ordem do dia, se é que alguma vez deixaram de estar, os problemas sociais e económicos que avassalam as famílias portuguesas. O contexto que os políticos (e governantes) têm sobre a família incide, quando muito, na sua globalidade, ou seja, no problema demográfico que de facto é grave, mas sem a preocupação da sua base institucional enquanto bem social. Como é evidente não devemos circunscrever à família apenas os problemas económicos, mas também não podemos esquecer que são estes que mais afligem e marcam os agregados enquanto tal. Perante a crise que é transversal aos portugueses, mesmo que não tenham contribuído para a criar, a família poderá desempenhar um papel importante na recuperação que todos ansiamos.

Voltando a Ferreira Leite, anotamos as suas declarações de que a política de família tem sido estudada «infelizmente» numa ótica muito de natureza económica, embora reconheça ser «essencial» para o crescimento económico, «tem que ser vista de forma integrada e não parcial», em particular em matéria de divórcio. «Olhamos sempre para a família no sentido de duas pessoas com descendentes, mas há também os ascendentes», disse a economista, considerando que a integração dos ascendentes no mundo familiar é uma «fase dura e complexa», mas é um elemento de coesão «tão ou mais importante do que os restantes elementos» e que deve ser tido em consideração. «Devo dizer que das piores análises que podem existir é nós vermos qual é o peso no PIB dos idosos. A ideia de que isto é algo que se mede desta forma é algo que é absolutamente insustentável e indesejável numa política desta natureza», sublinhou.

O fator intergeracional familiar, como motivo agregador de sinergias, nunca foi tão importante nestes tempos de crise em que estamos envolvidos. Facilmente se constata que há avós a ajudar filhos e netos, mesmo que apenas só disponham de condições mínimas. O contrário já é muito mais difícil, dada a delicadeza da situação. Há famílias inteiras em que pais e filhos estão desempregados e sem acesso aos bens considerados essenciais. Recorde-se que a carta pastoral da CEP «A força da família em tempos de crise», aprovada no início deste mês de abril, releva a preocupação da Igreja portuguesa para com os anunciados cortes nas funções sociais do Estado, lembrando o papel fundamental das famílias e das instituições na prevenção de uma convulsão social.

A situação das famílias e dos cidadãos deste país é explosiva, muito pela falta de empenho dos governantes na motivação do cidadão, descurando o lado humano das pessoas. A necessidade de empenhar instituições e cidadãos na criação de políticas de crescimento económico, propiciando os meios para o conseguir, é mais que evidente. O Governo preocupa-se com o controlo das contas públicas - é necessário que o faça - mas não pode nem deve esquecer que as pessoas têm direito a viver uma vida com dignidade. Independentemente da via económica que possa escolher, liberal ou socialista, as pessoas estão sempre primeiro lugar. Não é um chavão; é uma obrigação.

Há um desnorte que se constata nas políticas económicas e financeiras traçadas, mesmo a nível europeu, que é confrangedor, revelando uma falta de responsabilidade coletiva e individual alarmante, que não permite acalentar grande margem de esperança num futuro mais risonho. Há uma necessidade premente que os partidos e políticos de todos os quadrantes se entendam no rumo a seguir, ou a calamidade social será uma realidade e as pessoas vão recordar por muito tempo a incapacidade dos políticos na gestão de um país que não é só deles, mas de todos nós.


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