A importação paralela de produtos originais, sem consentimento do titular da marca, é proibida, conforme dispõe o artigo 132, inciso III, da Lei 9.279/96. Uma vez consentida, a entrada do produto original no mercado nacional não configura importação paralela ilícita. Esse entendimento é da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A Turma analisou dois recursos especiais, interpostos
por Diageo Brands (titular das marcas de uísque Johnie Walker, White Horse e
Black and White) e por Diageo Brasil (distribuidora autorizada no Brasil)
contra Gac Importação e Exportação (empresa que adquiria os uísques nos Estados
Unidos e os vendia no Brasil).
Em 2004,
a titular
das marcas e sua autorizada moveram ações contra a Gac, com o objetivo de
impedir a importação paralela dos produtos, sua distribuição e comercialização
- realizadas há 15 anos -, e, além disso, receber indenização por perdas e
danos.
Em contrapartida, em 2005,
a importadora
ajuizou ação com o intuito de impedir o “boicote” à importação dos uísques.
Pediu que a titular das marcas fosse obrigada a conceder-lhe o direito de
importar os produtos e, ainda, indenização pelo tempo em que não pôde adquiri-los.
Indenização
Os dois processos foram julgados em conjunto pelo
magistrado de primeiro grau, que deu razão à Gac e julgou improcedentes as
ações da Diageo Brands e da Diageo Brasil. Ambas foram condenadas
solidariamente ao pagamento de indenização à importadora pelas perdas e danos
decorrentes da recusa em vender.
Após analisar o processo, o Tribunal de Justiça do Ceará
(TJCE) afirmou que, “se a função moderna da marca é distinguir produtos e
serviços entre si, a importação paralela de produtos autênticos em nada afeta
os direitos do proprietário da marca”. Em seu entendimento, somente é vedada a
importação de produtos pirateados.
Nos recursos especiais direcionados ao STJ, Diageo
Brands e Diageo Brasil alegaram violação do artigo 132, inciso III, da Lei
9.279, segundo o qual, “o titular da marca não poderá impedir a livre
circulação de produto colocado no mercado interno, por si ou por outrem com seu
consentimento”.
Consentimento
Para o ministro Sidnei Beneti, relator dos recursos, “o
titular da marca internacional tem, portanto, em princípio, o direito de exigir
seu consentimento para a importação paralela para o mercado nacional, com o
ingresso e a exaustão da marca nesse mercado nacional”.
Ele verificou no processo alguns fatos relevantes: a
Diageo Brasil é a distribuidora exclusiva da Diageo Brands; os produtos
importados pela Gac eram originais; efetivamente, houve a recusa ao
prosseguimento das vendas; os produtos foram adquiridos durante 15 anos; houve
o consentimento tácito pela titular durante esse tempo e, por fim, a recusa da
titular em vender os produtos causou prejuízo à importadora, em forma de lucros
cessantes.
De acordo com Beneti, o artigo 132, inciso III, da Lei
9.279 é taxativo. O dispositivo respeita os princípios da livre concorrência e
da livre iniciativa, entretanto, exige o consentimento do titular da marca para
a legalidade da importação.
“O tribunal de origem julgou contra esse dispositivo
legal, ao concluir no sentido da garantia do direito de realizar a importação
paralela no Brasil, vedando-a tão somente no caso de importação de produtos
falsificados”, afirmou.
Para o ministro, a importação que vinha sendo realizada
pela Gac não pode ser considerada ilícita, porque não havia oposição das
empresas. Entretanto, ele concluiu que, como não havia contrato de
distribuição, não seria possível obrigá-las a contratar, restando apenas manter
a condenação solidária quanto à indenização à importadora pela cessação da
atividade econômica - com a qual consentiram durante 15 anos.
Processo relacionado: REsp 1249718
Fonte: Superior Tribunal de Justiça
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