A sessão plenária do Supremo Tribunal Federal (STF) realizada nesta quinta-feira (30) foi a última com a presença do ministro Cezar Peluso como integrante da Corte. No próximo dia 3 de setembro, ele completará 70 anos, idade limite de permanência na Corte em razão da regra de aposentadoria compulsória.
“Poucos cidadãos brasileiros, na
história, tiveram a oportunidade de chegar a esse posto”, constatou o ministro,
ao salientar que pertencer ao Supremo foi “uma honra inexcedível”. “Chegar ao
Supremo é o coroamento de toda uma vida dedicada à magistratura”, ressaltou.
Porém, disse que essa conquista não foi
por mérito próprio. “Não digo isso por falsa modéstia, mas pela necessidade do
reconhecimento de que essa distinção, com que fui honrado pela vida, é o
produto da colaboração de atos de números incontáveis de pessoas”, disse. “Como
todos, a minha vida também é marcada pela vida e atitude de outras pessoas com
as quais convivemos, e muitas outras com as quais não vivemos, e de cuja a
atuação a nossa vida de certo modo e em certa medida também depende”, completou.
“Eu saio com a consciência tranquila de
dever cumprido. Em nenhum passo a consciência me acusa de não ter feito mais do
que eu podia”, avaliou. Ele agradeceu à colaboração dos ministros, “que
permitiram que o cumprimento desse dever fosse fruto de um aprendizado
constante”. O ministro Peluso salientou que por maior que tenha sido ou que
seja a experiência daquele que chega ao Supremo, na sua origem profissional,
“ele não pode deixar de reconhecer que [essa experiência] seria insuficiente
para dar conta dos altos e pesados deveres com que se defrontam os ministros
dessa Corte, não apenas pelo volume extraordinário do serviço, mas pela
gravidade e responsabilidade das suas decisões”.
Por fim, ele agradeceu a todos os
servidores que colaboraram não apenas no gabinete, mas nas Presidências do STF
e do CNJ, de uma maneira direta ou indireta, “mas demonstrando sempre, todos
eles, e não faço uma afirmação meramente retórica, mas reconheço aquilo que é
uma verdade histórica, que sempre demonstraram a solidariedade e a lealdade
extremas, não a mim que não mereço, mas à instituição a que todos devemos.
“Deixo hoje a Corte e, também, a
expressão que me comoveu de um grande pensador brasileiro que já se foi e
marcou minha adolescência: ‘o cristão é um ser singular porque ele recebe as
graças e se regozija de saber que não pode pagá-las’”, afirmou. “Desejo a todos
que continuem a aguardar o prestígio desta Corte, dizendo, simplesmente, muito
obrigado”, finalizou.
Felizes nove anos
Peluso justificou seu comparecimento na
sessão de hoje, uma vez que homenagens foram prestadas a ele na sessão de
ontem. “O ministro Ayres Britto leu seu voto hoje, que completaria o capítulo
[de número 3, no julgamento da AP 470] sobre o qual eu havia votado ontem, de
modo que faltar a essa sessão seria uma desatenção injustificável a Vossa
Excelência”, disse.
Além disso, Peluso falou que sua presença
deve-se também por homenagem e respeito aos demais ministros, “afinal essa é,
de fato, a última sessão, e queria ter o prazer de ter essa última convivência
formal dentro deste plenário, onde estivemos nesses nove longos e felizes anos”.
Virtudes
O presidente do Supremo, ministro Ayres
Britto, iniciou a homenagem ao futuro ministro aposentado na sessão de hoje.
“As virtudes de Vossa Excelência estão muito além da capacidade de traduzi-las
em palavras”, disse. Contudo, citou que Peluso tem um “reconhecido e
incomparável” raciocínio rápido. “Vossa Excelência tem uma espantosa velocidade
de raciocínio, além do que concatenado, aliás como rápido e veloz é o ritmo da
sua fala”, observou.
“Vossa Excelência, ainda, sobreleva o
argumento portentoso, sedutor, agudo e analista que Vossa Excelência é dos
fatos e dos dispositivos jurídicos e, por que não dizer, da própria vida como
um todo”, ressaltou o presidente da Corte, destacando que Peluso “consegue ser
teórico e prático do direito na medida exata da necessidade dos processos sob
os seus cuidados profissionais, judicantes, portanto”.
O ministro Ayres Britto fez outros
elogios ao ministro homenageado, entre eles ao discurso lógico de Peluso que
apresenta início, meio e fim, além de afirmar que o ministro sempre tratou
temas analisados pela Corte com unidade e sequência. “Tudo isso patenteia a sua
entranhada vocação para os misteres jurídicos e o ofício judicante. É o legado
inquantificável que Vossa Excelência nos deixa e que temos a obrigação de
preservar e, mais que isso, tentar robustecer para honra deste Supremo e glória
do nosso próprio país”, salientou.
“Quero renovar, em nome dos colegas, a
mais sincera e profunda gratidão pela honra do seu convívio tão amigo, tão
inspirador, tão instigante, tão honroso e que ficará para sempre integrado ao
nosso melhor patrimônio intelectual, espiritual, técnico. Esta é uma Casa de
fazer destino e Vossa Excelência veio para confirmar esse desígnio histórico do
Supremo Tribunal do Brasil”, concluiu o ministro Ayres Britto.
Homenagens na semana
Durante toda a semana, o ministro Cezar
Peluso recebeu homenagens. Na terça-feira (28), os ministros da Segunda Turma -
da qual ele pertence - foram unânimes em suas manifestações de admiração pela
capacidade e profissionalismo de Peluso ao longo de sua carreira.
Na sessão plenária de ontem (29), o
ministro Cezar Peluso também recebeu homenagens pela sua trajetória durante os
nove anos em que permaneceu no STF. Falaram o procurador-geral da República,
Roberto Gurgel, em nome do Ministério Público Federal (MPF), o advogado Márcio
Thomaz Bastos, pela categoria, e o decano do Tribunal, ministro Celso de Mello.
Fonte: Supremo Tribunal Federal
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