O Supremo Tribunal Federal (STF)
reconheceu a existência de repercussão geral no Recurso Extraordinário (RE) 614384,
em que o município de Aracaju pleiteia o direito de efetuar a execução do
Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) supostamente devido por uma
contribuinte de outro município, alegando que o povoado onde se localiza o
imóvel objeto da cobrança do tributo pertence a Aracaju, por força do artigo 37
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição de
Sergipe.
No recurso, o município de Aracaju
contesta acórdão do Tribunal de Justiça de Sergipe (TJ-SE) que negou provimento
a apelação e manteve entendimento no sentido da inconstitucionalidade do artigo
37 do ADCT da Carta sergipana, pois o desmembramento do povoado de Mosqueiro,
pertencente ao município de São Cristóvão, teria ocorrido em desacordo com o
parágrafo 4º do artigo 18, parágrafo 4º, da Constituição Federal. Tal
dispositivo condiciona a criação, fusão, incorporação e o desmembramento de
municípios a prévio plebiscito entre as populações dos municípios envolvidos.
O governo de Aracaju argumenta,
entretanto, que o artigo 37 do ADCT estadual foi convalidado pela Emenda
Constitucional (EC) federal 57, de 18 de dezembro de 2008, mediante inserção do
artigo 96 ao ADCT. Tal emenda ratificou a criação, fusão, incorporação e o
desmembramento dos municípios sergipanos por lei publicada até dezembro de
2006. Além disso, segundo ela, não caberia aplicação da Lei 554/54, segundo a
qual Mosqueiro sempre integrou o município de São Cristóvão, uma vez que aquela
lei teria caráter temporário.
Recursos
A Justiça de primeiro grau declarou a
extinção da execução fiscal do débito, reconhecendo a ilegitimidade ativa do
município de Aracaju de realizar a cobrança, ante a inconstitucionalidade do
desmembramento do povoado de Mosqueiro do município de São Cristóvão, do qual
faria parte até hoje. O mesmo entendimento prevaleceu no julgamento de
apelação, no Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe (TJ-SE). O TJ-SE admitiu
a subida do RE ao Supremo.
Decisão
Ao propor o reconhecimento de
repercussão geral da questão constitucional suscitada, o relator do RE,
ministro Luiz Fux, observou que a situação é emblemática, pois a sentença de
primeiro grau, que extinguiu a execução fiscal, foi proferida em 12 de novembro
de 2008, um mês antes da edição da EC 57/08, que ratificou o desmembramento.
Por outro lado, o TJ-SE, no julgamento do Incidente de Inconstitucionalidade nº
0001/2000, declarou a inconstitucionalidade do artigo 37 do ADCT estadual.
O ministro lembrou que várias ações
versando sobre o assunto tiveram decisões monocráticas, na Suprema Corte, mas
nenhuma delas, decisão de mérito pelo Plenário. Entretanto, segundo ele, o
assunto tem repercussão em todos os estados da Federação que tenham realizado
desmembramento municipal em desacordo com a norma do artigo 18, parágrafo 4º,
da CF, e antes da entrada em vigor da Emenda Constitucional 57/08.
Por isso, ele se manifestou pela
existência de repercussão geral da questão em debate no recurso extraordinário.
O Plenário Virtual do Supremo seguiu o entendimento do relator.
Fonte: Supremo Tribunal Federal
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