Instalações indígenas na cidade e na entrada das aldeias foram
destruídas, e população permanece confinada na reserva
A persistência do conflito entre brancos e índios pelo desaparecimento
de três homens na reserva tenharim-marmelos há 20 dias pode deixar crianças e
jovens indígenas sem aulas no início do ano escolar, em Humaitá, sul do
Amazonas. O calendário de 2014 foi adiantado em razão da Copa e o ano letivo
começa em menos de um mês. De acordo com Ivanildo Tenharim, representante da
etnia e coordenador de Educação Escolar Indígena em Humaitá, mais de trinta
professores índios que atuam nas 13 escolas indígenas do município terão de
passar por um curso de capacitação na cidade antes do início das aulas.
Após o conflito que resultou na destruição das instalações indígenas na
cidade e na entrada das aldeias, os índios permanecem confinados na reserva, o
mesmo ocorrendo com os professores. Além da falta de alimentação e de
atendimento médico, essa é a questão que mais nos preocupa, disse Ivanildo.
Segundo ele, as aldeias estão num processo de integração escolar que não pode
ser interrompido. Levamos muito tempo para chegar ao estágio atual e agora tudo
depende da educação. No final de janeiro, seria realizada uma oficina
pedagógica para professores que atendem, além dos tenharim, outros povos, como
os parintintins, apurinã, tora, mura e manducuru, mas já foi cancelada.
Ivanildo, que desde o início negou a participação dos índios no desaparecimento
dos três brancos, disse que os tenharins valorizam a língua materna, os
costumes e a cultura. Não somos a causa dessa revolta, mas estamos sofrendo as
consequências. Esperamos que a polícia forneça logo as respostas que a
população espera para voltarmos à vida normal. A questão escolar foi levada à
Fundação Nacional do Índio (Funai). Segundo ele, o órgão está envolvido com o
atendimento de necessidades mais imediatas dos indígenas, como alimentação,
atendimento médico e segurança.
Os três homens desapareceram na rodovia Transamazônica, quando passavam
de carro pela reserva indígena no dia 16 de dezembro. Há dez dias uma
força-tarefa comandada pela Polícia Federal realiza buscas na região. Foram
encontrados na sexta-feira restos de um carro incendiado próximo de uma aldeia
tenharim. A perícia que vai determinar se era o veículo usado pelos
desaparecidos deve ser finalizada nos próximos dias. Toda a área está sendo
patrulhada pela Força Nacional de Segurança, Polícia Rodoviária Federal e
homens do Exército.
Na terça-feira (7), o general de exército Eduardo Dias da Costa Villas
Boas, comandante militar da Amazônia, vai sobrevoar a região. Ele deve decidir
se autoriza a entrada na floresta da tropa de elite do Exército, especialista
em combate na selva, para ajudar nas buscas, como querem familiares dos
desaparecidos. Antes do sobrevoo, Villas Boas se reúne com o general de brigada
Ubiratan Poty, em Porto Velho.
Suspeita. O advogado das famílias dos desaparecidos, Carlos Terrinha,
vai pedir à Funai que investigue a conduta do coordenador regional do Madeira,
Ivã Bocchini, que teria usado o blog oficial do órgão para levantar suspeitas
sobre a morte do cacique Ivan Tenharim, após acidente de moto, dia 3 de
dezembro. As autoridades competentes devem ser capazes, agora, de dar uma
resposta à altura da importância que o cacique tinha para os tenharim. A Funai
irá cobrar a polícia para que haja uma investigação e seja apontada a
verdadeira causa da morte, escreveu.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo
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