O coordenador do Movimento Gestor pela Conciliação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), conselheiro José Roberto Neves Amorim, costuma abrir reuniões e workshops sobre o tema deixando clara a força que tem a conciliação para o Judiciário. “O Judiciário brasileiro não funciona apenas para litigar, não vive só de litígios”, afirma. Ao longo desses 14 meses em que integra o Conselho, Neves Amorim tem pregado com iniciativas diversas de aperfeiçoamento de magistrados e servidores do Judiciário a importância da conciliação para o País. “A Justiça fica mais aberta para a população, melhora o atendimento aos jurisdicionados e o estoque de processos existentes nos tribunais desafoga consideravelmente”, enfatiza.
Apesar disso, o conselheiro reconhece se tratar de uma
prática que, apesar de exitosa, precisa ser intensificada, por representar
mudança profunda no modo de pensar dos brasileiros. “Não é fácil, porque a
conciliação de certa forma reflete um modo de ser da própria sociedade, que tem
sido orientada a litigar desde décadas passadas”, costuma afirmar. No momento,
atarefado com os preparativos para a VII edição da Semana Nacional da
Conciliação, que será realizada de 7
a 14 de
novembro, o conselheiro tem expectativa de que o evento repita ou supere os
bons índices das edições anteriores. Na entrevista abaixo, ele relata como têm
sido as várias experiências observadas durante os mutirões realizados nos
estados brasileiros e os motivos pelos quais acha que a prática é, hoje,
fundamental.
Como o sr. vê o crescimento e a disseminação da
conciliação no Judiciário?
A conciliação é uma prática que veio para ficar. É uma
condição de pacificação social necessária e definitiva para o Judiciário
brasileiro. Entre as várias vantagens da prática de solução consensuada de
conflitos, podemos destacar o fato de a conciliação deixar a Justiça mais
aberta para a população, melhorar o atendimento aos jurisdicionados e desafogar
o estoque de processos existente nos tribunais.
Desde 2010, com a Resolução n. 125 do CNJ, a pacificação
de conflitos por meio da conciliação passou a ser uma política nacional do
Judiciário. A seu ver, a política tem sido bem implantada pelos tribunais?
Sim, embora as ações tenham sido ampliadas a cada ano.
Tanto a administração dos tribunais como magistrados e servidores já perceberam
que a conciliação contribui para a redução dos processos e dos conflitos como
um todo. Temos notado o grau de engajamento de muitos magistrados na
implantação da Resolução n. 125/2010 e a progressiva implantação de diversos
centros de conciliação em todo o País.
Há uma boa expectativa em relação à próxima Semana
Nacional da Conciliação?
Claro, até porque os bons números obtidos nas
conciliações formalizadas durante as últimas semanas revelam que a conciliação
precisa ser disseminada muito mais, já que ajuda a tornar a Justiça mais
efetiva não apenas nos processos que estão dentro dos tribunais. Precisamos
estimular cada vez mais, também, a resolução dos litígios durante a fase
pré-processual.
O CNJ se prepara para a VII edição da Semana Nacional da
Conciliação. O que mudou do ano passado para cá?
A semana do ano passado se destacou das anteriores por
ser a primeira vez que se realizou após a criação da Política Nacional de
Conciliação, que foi implantada em dezembro de 2010 pela Resolução n. 125.
A medida
determinou a criação de núcleos e centros voltados à promoção da conciliação
nos estados brasileiros e a busca pela conciliação na fase pré-processual, como
já falei anteriormente. É uma forma de evitar que os conflitos sejam
judicializados sem necessidade. Este ano, o CNJ intensificou o estímulo à
formação de conciliadores e mediadores e realizou vários cursos para a
capacitação de magistrados e servidores do Judiciário, que, por sua vez, estão
ajudando na capacitação de outros tantos em todos os tribunais. Com isso,
estamos formando uma rede de pessoas aptas à prática de conciliação no
Judiciário brasileiro, o que certamente se refletirá não apenas nos índices da
próxima Semana Nacional da Conciliação como também nos resultados obtidos ao
longo deste ano nos diversos mutirões que são feitos de janeiro a dezembro em
todos os tribunais.
Existem gargalos ou peculiaridades observadas em alguns
tribunais durante a prática da conciliação que podem ser destacados?
Os tribunais têm realizado excelente trabalho e buscado,
em todo esse período, alternativas de acordo com o número de processos
observado a partir da realidade de cada estado. A prova disso é que temos visto
mutirões setorizados que têm obtido excelentes índices de acordos, como as
questões previdenciárias e outros trabalhos, criados para quem possui dívidas
com taxas como Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Taxa de Limpeza
Urbana (TLP). Também têm sido realizados vários mutirões para resolução de pendências
das pessoas com o Detran e com o seguro de veículos automotores (DPVAT); para
quitação de dívidas com o Sistema Financeiro de Habitação (SFH); com o
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Esses são apenas alguns dos vários
exemplos que podemos citar vindos dos tribunais estaduais e federais de todas
as regiões.
Pelo que o sr. está afirmando, o Judiciário tem feito
sua parte. Mas ainda não pode existir uma espécie de resistência por parte da
população em conciliar, por achar que é melhor ver o processo decidido, a causa
ganha propriamente, em todas as instâncias da Justiça, por mais moroso que isso
seja?
Não vejo assim. Acho que a população está cada vez mais
conscientizada sobre a importância de se conciliar. Até porque a conciliação
não apenas contribui para a solução dos litígios dos cidadãos como também
estimula a própria sociedade para o fato de que é melhor conciliar do que
mitigar. Sabemos que essa mudança no modo de pensar não é uma coisa fácil e, de
certa forma, reflete um modo de ser da própria sociedade, que tem sido
orientada a mitigar desde décadas passadas, mas o Direito também transporta práticas
conciliatórias.
O CNJ também tem entregue, ao final de cada Semana
Nacional da Conciliação, o prêmio Conciliar é Legal, tradicionalmente concedido
aos tribunais, magistrados e servidores que se destacam com boas práticas.
Poderia nos falar sobre a importância dessa homenagem?
Vejo como uma valorização fundamental aos que tanto se
empenham na conciliação. A mediação e a conciliação são institutos que devem
ser amplamente divulgados, e esse é um dos caminhos que encontramos para levar
isso às pessoas, assim como acho que valorizar e estimular as faculdades de
Direito no ensino dessa prática também é fundamental para fortalecer a
negociação na resolução dos conflitos sociais.
Durante workshop ocorrido no Encontro Nacional dos
Núcleos de Conciliação dos tribunais, o sr. mencionou o alto valor dos
processos nas justiças estaduais e na federal. Acredita que o bom trabalho da
conciliação precisa passar por esses núcleos, instituídos pela Resolução n. 125?
Acredito que esse projeto [dos núcleos de conciliação]
deve ser levado à frente. A maioria dos tribunais tem boa vontade e já está
desenvolvendo seus núcleos. No Rio de Janeiro, por exemplo, as salas de
mediação e os profissionais envolvidos nessa ação se destacam, assim como em
outros estados, mas precisamos avançar ainda mais. Obtivemos excelentes índices
de acordos nas últimas edições da Semana e nossa expectativa é de, este ano,
conseguir repetir, senão ampliar ainda mais tais resultados. Apenas no ano
passado foram realizadas perto de 160 mil audiências e formalizados
aproximadamente 79 mil acordos, em valores homologados que totalizam
aproximadamente R$ 600 milhões.
Fonte: Conselho Nacional de Justiça
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