O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
justificou as viagens a países da América Latina e África pagas por empresas
privadas ao afirmar que servem para vender os produtos brasileiros.
Se alguém tiver um produto brasileiro e tiver
vergonha de vender, me dê que eu vendo. Não tenho nenhuma vergonha de continuar
fazendo isso. Se for preciso vender carne, linguiça, carvão, faço com maior
prazer. Só não me peça para falar mal do Brasil que eu não faço isso, afirmou o
ex-presidente, em entrevista ao jornal Valor Econômico publicada nesta
quarta-feira (27).
Na semana passada, a Folha revelou que 13 de suas
30 viagens ao exterior após sair do cargo foram bancadas por empreiteiras com
interesses nos países visitados, conforme telegramas obtidos via Itamaraty.
No exterior, Lula participou de encontros privados
entre políticos locais e empresários brasileiros, além de prometer levar
pedidos a Dilma Rousseff.
Nessas viagens, o governo brasileiro também teve
gastos, pois Lula recebeu apoio de embaixadas, por meio de funcionários locais
ou diplomatas enviados do Brasil para acompanhá-lo. Há também pagamento de
almoços e aluguéis de material para a comitiva.
Na entrevista ao Valor, o petista lembrou que
costumava levar empresários nas suas viagens quando era presidente. Viajo para
vender confiança. Adoro fazer debate para mostrar que o Brasil vai dar certo.
Compre no Brasil porque o país pode fazer as coisas. Esse é o meu lema.
Lula aproveitou ainda para criticar o seu
antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Fico com pena de ver uma figura de 82
anos como o Fernando Henrique Cardoso viajar falando que o Brasil não vai dar
certo. Fico com pena.
Ao falar das palestras remuneradas, Lula citou o
caso de FHC e do americano Bill Clinton e disse ser uma das poucas pessoas com
autoridade de ganhar dinheiro com isso por causa do governo que fez.
Contam-se nos dedos quantos presidentes podem falar
das boas experiências administrativas como eu, afirmou.
ELEIÇÃO
Ao comentar a eleição presidencial de 2014, Lula
afirmou que a prioridade é a reeleição da presidente Dilma Rousseff, mesmo que
o PT tenha que abrir a mão de candidaturas em Estados como Rio de Janeiro e São
Paulo.
Não podemos permitir que a eleição da Dilma corra
qualquer risco. Não podemos truncar nossa aliança com o PMDB. Acho que o PT
trabalha muito com isso e que Lindbergh pode ser candidato sem causar problema.
Acho que o Rio vai ter três ou quatro candidaturas e ele, certamente, vai ser
uma candidatura forte, afirmou o ex-presidente.
Ele se referia ao senador Lindbergh Farias cuja
candidatura sofre resistência do PMDB do governador Sérgio Cabral e do provável
candidato da sigla, o vice-governador Luiz Fernando Pezão.
Em São Paulo, o petista defendeu a aproximação com
o PSD de Gilberto Kassab, que é pré-candidato, e o PTB para bater o PSDB.
Precisamos quebrar esse hegemonismo dos tucanos aqui em
São Paulo, porque eles juntam todo mundo contra o PT. Precisamos quebrar isso.
Acho que temos todas as condições.
Sobre a possível candidatura presidencial do
governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), Lula afirmou que considera
normal que se apresente, mas disse que pretende ter uma conversa com ele.
Eu não misturo minha relação de amizade com as
divergências políticas. Segundo, acho muito cedo pra falar da candidatura
Eduardo. Ele é um jovem de 40 e poucos anos. Termina seu mandato no governo de
Pernambuco muito bem avaliado. Me parece que não tem vontade de ser senador da
República nem deputado. O que é que ele vai ser? Possivelmente esteja pensando
em ser candidato para ocupar espaço na política brasileira, tão necessitada de
novas lideranças.
SAÚDE
Questionado sobre o julgamento do mensalão, Lula
disse que não fala sobre o assunto por respeito ao Judiciário.
Quando tiver a decisão final vou dar minha opinião
como cidadão. Por enquanto vou aguardar o tribunal. Não é correto, não é
prudente que um ex-presidente fique dizendo Ah, gostei de tal votação, Tal juiz
é bom.
Sobre sua saúde, ele disse estar bem e afirmou que
não existe mais câncer na laringe. A fonoaudióloga diz que é como se fosse a
erupção de um vulcão. Tem uma pele diferenciada na garganta que leva tempo para
cicatrizar. Quando falo dá muita canseira na voz. Já tenho 67 anos. O petista
disse que não está mais fumando e bebendo.
Apesar disso, o ex-presidente afirmou que não
voltará a ser candidato. Está na hora de ficar quieto, contando experiência.
Mas meu medo é falar isso e ler na manchete. Não sei das circunstâncias
políticas. Vai saber o que vai acontecer nesse país, vai que de repente eles
precisam de um velhinho para fazer as coisas. Não é da minha vontade. Acho que
já dei minha contribuição. Mas em política a gente não descarta nada.
Fonte: UOL Notícias
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