Daniel Martins de Barros, do Instituto de Psiquiatria do HC de SP, afirma que, na maioria das vezes, simulações são grosseiras
27 de abril de 2011 | 17h 51Luís Fernando Bovo, do Estadão.com.brO psiquiatra forense Daniel Martins de Barros, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirmou que, além de ser bem orientada, a promotora Deborah Guerner teria de ser uma excelente atriz para conseguir enganar os peritos e simular ser portadora de transtorno bipolar. "Na maioria das vezes, as simulações são grosseiras", afirmou.Segundo revelou o jornal O Estado de S.Paulo na edição desta quarta-feira, 27, imagens mostram como a promotora foi orientada pelo psiquiatra Luis Altenfelder Silva Filho para simular doença mental e atrapalhar as investigações sobre seu envolvimento com o 'mensalão do DEM'. Altenfelder nega. À rádio Estadão ESPN, ele disse que usou técnicas de psicodrama para tranquilizar a paciente. Deborah está presa. Abaixo, a entrevista com Daniel Martins de Barros:É possível simular uma doença, como tentava fazer a promotora Deborah Guerner? É possível enganar alguém?Dá para tentar enganar. Em psiquiatria, como a gente não tem exame de sangue, é baseado apenas no que a pessoa diz e no seu comportamento, ela pode tentar simular. Se a pessoa for bem orientada, além de ser um bom ator, às vezes consegue ou enganar ou tentar enganar melhor. Na maioria das vezes, as simulações são grosseiras. A pessoa é leiga, não sabe o que é um transtorno mental, quais são os sintomas, então simula tudo errado. Mas alguns casos são mais difíceis de detectar a simulação.
Luís Fernando Bovo, do Estadão.com.br
O psiquiatra forense Daniel Martins de Barros, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirmou que, além de ser bem orientada, a promotora Deborah Guerner teria de ser uma excelente atriz para conseguir enganar os peritos e simular ser portadora de transtorno bipolar. "Na maioria das vezes, as simulações são grosseiras", afirmou.
Segundo revelou o jornal O Estado de S.Paulo na edição desta quarta-feira, 27, imagens mostram como a promotora foi orientada pelo psiquiatra Luis Altenfelder Silva Filho para simular doença mental e atrapalhar as investigações sobre seu envolvimento com o 'mensalão do DEM'. Altenfelder nega. À rádio Estadão ESPN, ele disse que usou técnicas de psicodrama para tranquilizar a paciente. Deborah está presa. Abaixo, a entrevista com Daniel Martins de Barros:
É possível simular uma doença, como tentava fazer a promotora Deborah Guerner? É possível enganar alguém?
Dá para tentar enganar. Em psiquiatria, como a gente não tem exame de sangue, é baseado apenas no que a pessoa diz e no seu comportamento, ela pode tentar simular. Se a pessoa for bem orientada, além de ser um bom ator, às vezes consegue ou enganar ou tentar enganar melhor. Na maioria das vezes, as simulações são grosseiras. A pessoa é leiga, não sabe o que é um transtorno mental, quais são os sintomas, então simula tudo errado. Mas alguns casos são mais difíceis de detectar a simulação.
O profissional que está do outro lado, fazendo a perícia, tem recursos para descobrir se a pessoa está simulando uma doença?
O que se faz, quando se desconfia, é deixar a entrevista mais longa. O profissional vai perguntando detalhes, coisas que não são tão habituais de se perguntar nesse caso. Se uma pessoa foi instruída, ela consegue ser instruída em linhas gerais. Você não consegue instruir na minúcia, senão você precisa formar um outro psiquiatra. Então, quando o perito desconfia, ela estende mais a perícia, vai perguntando outros detalhes, sobre história familiar, ampliando o leque para ver se a pessoa se contradiz em relação ao quadro que ela está descrevendo. Ela está alegando que tem determinada doença, mas de repente a pessoa fala de um sintoma que não tem nada a ver com aquela doença. Isso traz uma desconfiança que pode chamar a atenção do perito.
O fato de o transtorno bipolar ser uma doença uma doença difícil de diagnosticar facilita esse tipo de atitude, de tentativa de simulação?
Na verdade, os transtornos psiquiátricos têm essa particularidade. Então é por isso que vira e mexe você vê gente tentando simular doenças mentais. Não dá para simular cegueira, por exemplo. Transtorno bipolar é só uma das doenças que tentam simular, mas tem também depressão, tem também as pessoas que ouvem vozes. Com isso, perde todo mundo: a sociedade e as pessoas que são portadoras do transtorno e ficam estigmatizadas. Atrelar transtorno bipolar e corrupção não faz sentido. O transtorno bipolar necessariamente não vai levar a pessoa para a aposentadoria. Se tratado, a pessoa leva uma vida normal. Não fica dopado, não fica nada. Tem uma vida produtiva. É difícil a pessoa ter transtorno bipolar a ponto de precisar se aposentar.
O psiquiatra que tratou dela deu uma entrevista dizendo que estava usando psicodrama. É possível?
Existe uma técnica de tratamento chamada psicodrama, que faz com que a pessoa entre num papel, vivencie situações etc. Como eu não conheço a técnica, é difícil dizer se o profissional está falando a verdade.
O que você acha que deve acontecer com um profissional que faz uma coisa dessas, ou seja, ensina uma paciente a fingir uma doença para enganar uma perícia?
Provavelmente o CRM (Conselho Regional de Medicina) vai investigar. Vou dizer uma coisa que até pode parecer corporativista, mas não é: ainda que se comprove que de fato o profissional estava ensinando a promotora a burlar uma perícia, não me parece ser uma infração que ele tenha de perder a sua licença de ser médico. Primeiro que não ia adiantar nada. Se ele quer ensinar uma pessoa a simular perícia, ele não precisa ser médico. Ter CRM ou não ter não resolve nada. Não acho que seja um crime grave cometido no exercício da medicina a ponto de ele ser punido dessa maneira
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